A União Nacional dos Estudantes repudia a tentativa de intimidação de sua atuação democrática a partir da ação do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ao aceitar a criação de uma CPI contra a entidade.
Com quase 80 anos de história, sendo um patrimônio indelével do povo brasileiro e uma das instituições fiadoras do estado de direito no país, a UNE não pode ser atacada pelo extremismo e a intolerância política de personagens ilegítimos como o autor do requerimento da CPI, o deputado Marco Feliciano. Não há como permitir a ascensão de uma prática macartista de caça às bruxas no parlamento e na sociedade brasileira.
Ao tentar calar a UNE, essa iniciativa age contra os mais de sete milhões de estudantes universitários representados pela entidade, contra os centros e diretórios acadêmicos, diretórios centrais dos estudantes de todo o país, contra as atléticas estudantis, grupos religiosos, coletivos de cultura, comunicação e tantos outros que se organizam atualmente dentro da entidade em todos os 27 estados. Na UNE estão jovens identificados com todas as ideologias políticas, filiados a todos os partidos além de uma maioria sem partido nenhum. Na UNE estão homens e mulheres, brancos, negros, índios, LGBT, filhos das famílias ricas e também milhões das famílias pobres, que chegaram à universidade nos últimos anos por meio de programas como o Prouni, o Fies e as cotas.
Não foram poucas as vezes que a UNE foi atacada, em sua história, por incomodar os grupos ultraconservadores e fazer frente às manobras e golpes contra a democracia. Em 1964, a sede da entidade foi incendiada e metralhada na madrugada do dia primeiro de abril, como primeiro gesto da ditadura que se instalava depondo ilegalmente o presidente João Goulart. Desta vez, durante outro processo golpista, novamente buscam acuar a UNE sabendo o que ela representa e conhecendo a sua capacidade de mobilização das massas de estudantes brasileiros na defesa democrática. O resultado da perseguição, naqueles tempos, foi a prisão, tortura e morte de inúmeros líderes estudantis. Mesmo assim, a UNE não sucumbiu e derrotou o regime.
A criação de uma CPI para tentar desgastar a entidade, inclusive, não é uma novidade. Em 1963, em meio a ascensão dos grupos extremistas conservadores que chegaram ao golpe dois anos depois, o deputado integralista Raimundo Padilha, da UDN, defensor do nazismo de Adolf Hitler, foi o responsável por uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tinha o objetivo de desgastar a instituição ao investigar o uso de recursos para suas atividades. Em 2016, o uso da mesma agenda por Marco Feliciano revela os mesmos propósitos daqueles que não toleram a mobilização livre dos estudantes e sua força perante a formação plural de opiniões na sociedade.
Hoje, a tentativa de criação dessa CPI conta com o forte auxílio de personagens rejeitados pela grande maioria da sociedade brasileira, como o deputado Jair Bolsonaro, além de ter contado com o gesto de vingança de Eduardo Cunha contra os movimentos estudantis e de juventude que têm insistentemente denunciado as suas maldades e irregularidades nos últimos meses. O conjunto das organizações da juventude e todas as forças políticas republicanas hão de reconhecer e condenar o caráter estritamente persecutório da tentativa de criação dessa comissão, que foi construída, inclusive, atropelando o regimento interno da Câmara e furando a fila de outras investigações e pautas legítimas da agenda parlamentar. A UNE não aceita o vale-tudo tacanho de quem busca extermina-la. Não há como calar os estudantes brasileiros.